quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Velimir

Cerca de um milênio atrás, após vencer um Nilbog em um jogo de azar, Helgrik Drughen adquiriu uma inestimada fortuna em peças de cobre e eletrum, porém, por ser um hobgoblin, ele conhecia muito bem os goblins e sabia que o Nilbog iria dar um jeito de o passar a perna, então subitamente ele se pôs de pé em frente ao Nilbog e o esmagou sem escrupulo algum. Porém, o que ele não sabia era que durante o jogo, o Nilbog já havia jogado uma maldição na mesa que estava sendo decidida pelas cartas e dados.

"Todo o terceiro filho do braço direito do segundo tenente-coronel de cada geração que venha a nascer no primeiro ano de cada década se tornará o mais belo e bondoso de todos os hobgoblins de seu grupo."
. O ano era 4970, Urlut voltava de seu treinamento matinal em direção ao templo de Nomog-Geaya enquanto carregava Eklin e Gudrad apoiados em seus ombros. Ao entrar no templo, ele viu o que os boatos diziam ser mais nova aprendiz da clériga Cemgolda, era uma hobgoblin de pele vermelha-esverdeada com manchas marrons desformes por todo o corpo, cabelos negros em dreads longos e mal cuidados e olhos terrivelmente amarelos. Sem pensar duas vezes, ele jogou seus colegas no chão e foi puxar conversa com aquela mulher de seus sonhos.
. 4971, Urlut e Vustafmi caminhavam sobre o campo de batalha ao lado de Pekhud, Proldrem e Daykim. Os cinco causavam caos e discórdia aos inimigos, eram um grupo inderrotável dos mais poderosos guerreiros. Pekhud era o tenente-coronel e o guerreiro invicto, Proldrem era o major e o bárbaro de malho de goblin, Urlut era o capitão e o paladino leal maligno exemplar, Daykim era uma tenente e a guerreira de três espadas e Vustafmi era a outra tenente e protegia seus aliados enquanto queimava seus inimigos.
. Quatro anos no futuro, Urlut e Vustafmi estavam casados e já tinham um filho. Urlut foi promovido depois que Proldrem tomou o lugar de Pekhud que havia desaparecido em ação. No ano seguinte, Urlut havia se tornado o melhor estrategista de combate, aconselhando seu superior, enquanto em combate, ao lado de Proldrem e Daykim eles dominavam territórios sem qualquer dificuldade. Vustafmi ficava na cidade treinando os futuros exércitos por cuidando do segundo filho.
. Anos depois, agora em 4980, o casal tinha acabado de ter mais um filho, Uldkrom. Nessa época, seus irmãos já tinham 8 e 5 anos, e por isso ele cresceu tendo ótimos exemplos para admirar...
. Bem... Pelo menos essa é a história que queriam que eu seguisse...
. Obviamente, eu fui treinado na arte da guerra por conta de minha linhagem, mas boa parte do tempo eu passava lendo os livros que meus pais saqueavam, e desde pequeno eu sempre tive curiosidade pela sociedade humana.
. Em uma de minhas primeiras incursões, nós encontramos uma biblioteca abandonada e fizemos nossa base temporária lá dentro por ficar perto de uma vila que iríamos atacar quando a lua estivesse começando a se por. E assim foi, desfizemos o acampamento e matamos a sangue frio os aldeões de lá. Eu não gostava disso, mas eu tinha que seguir o exemplo dos meus irmãos mais velhos.
. Só que... Eu acabei me interessando por aquela biblioteca, eu a marquei em meu mapa e passei a voltar para lá sempre que eu podia, às vezes deixando até de treinar ou atacar junto de meu batalhão.
. Eu passava horas e horas lendo naquela biblioteca, os livros me despertaram uma imensa sede de conhecimento. Tudo parecia tão novo pra mim, os livros me ensinavam coisas que o combate não ensinava, os livros eram silenciosos, eles não gritavam ou sangravam, era reconfortante estar ali sozinho. Eu aprendi muito sobre a sociedade de fora, como viviam os anões, o que faziam os elfos, a história dos humanos... Era tudo fascinante! Mas o que realmente me levou a estudar, foi buscar a resposta para uma pergunta que eu havia lido em um livro... "Se nós adquirissemos a riqueza do conhecimento e descobríssemos a verdadeira verdade do mundo, o que nós faríamos com tal conhecimento e qual seria o preço para adquirí-lo?"
. Mas acima de tudo, o que mais me interessava eram os contos de grandes magos. Eles faziam meteoros chover dos céus, eles acalmavam dragões para ter conversas diplomáticas com eles, transformavam cidades de pedra em ouro... Comecei a estudar os livros confusos de anotações de inúmeros magos, praticando os movimentos de mãos de Stephen Vincent, as palavras impronunciáveis de Howard Phillips, e estudando os materiais de Nicholas Flamel, e depois de semanas de treinamento intensivo eu fui capaz de conjurar minha primeira magia, Mãos Mágicas.
. A partir daí isso só aumentou mais e mais minha sede de conhecimento, eu lia e re-lia todos os livros de conjuradores, reais ou não. Eu pegava pergaminhos vazios e fazia anotações minhas, eu juntava pedaços velhos de madeira para testar efeitos mágicos. As primeiras magias que eu aprendi foram, por ordem, Mãos Mágicas, Ilusão Menor, Prestidigitação, Detectar Magia, Identificação, Convocar Familiar, Disfarçar-se, Raio Adoecente e Mísseis Mágicos. Minhas primeiras magias ainda estariam em pergaminhos na biblioteca se ela não tivesse sido queimada pelo meu irmão mais velho.
Um dia, fazia um tempo que eu não participava do treinamento, e meu irmão me seguiu para ver onde eu estava indo. Enquanto eu praticava minhas magias, eu ouvi a voz de desaprovação de Drokhen, eu perguntei o que ele fazia ali, mas ele apenas me olhou como se estivesse com dó de mim e jogou uma tocha acesa na estante mais próxima antes dele sumir. Eu tentei apagar o fogo, mas folhas velhas queimavam com muita facilidade. Eu só tive tempo de guardar alguns livros e os pergaminhos com minhas anotações reservas debaixo de algumas pedras, e até hoje eu não voltei mais lá. Eu saí correndo com um porta pergaminhos e minhas anotações mais recentes dentro dele.
Quando eu saí de lá e voltei para casa, apenas meu irmão estava me esperando. Ele me disse que estava desapontado, mas que não iria falar nada para ninguém, existem magos de guerra entre os hobgoblins, mas na nossa família nunca houve um, então ele pediu para que eu fingisse não saber magia e continuasse praticando apenas com a espada. Com medo de retaliação, eu concordei. E pelos próximos três anos, o único contato que eu tive com magia fora de períodos de guerra foram meus pergaminhos velhos que eu podia apenas ler...
. 5001, eu havia me tornado um exímio combatente. Estávamos prontos para sair em mais uma incursão para tomar uma grande cidade. Drokhen, o mais velho de nós três liderou o batalhão oeste e Ketruk, o do meio, junto de mim, fomos juntos do batalhão sul... Até hoje eu nunca vou me esquecer da derrota que nosso batalhão sofreu. O combate parecia 1 por 1, para cada inimigo que caía, um nosso caía junto. Foi completamente diferente do que esperávamos, sempre pisoteamos nossos inimigos sem dificuldade... Meu irmão Ketruk parecia desesperado e tomado por fúria, eu nunca havia o visto daquele jeito, ele girava sua espada como a roda de uma carroça, mas isso não evitava com que ele sofresse ataques, eu caído no chão ficava impressionado com sua força, mas chegou um ponto em que ele foi obrigado e cair de joelhos e ser finalmente derrubado por uma maça que no mínimo quebrou seu ombro esquerdo. A última visão que eu tive foi a do meu irmão sangrando na minha frente e dezenas de nossos colegas caídos à nossa volta... Eu sussurrei para mim mesmo: "É isso que eu quero? É realmente assim que eu quero viver e morrer?", a criatura que empunhava a maça veio então em minha direção, parou por alguns estantes, eu segurei minha respiração esperando que aqueles fossem meus últimos momentos... Mas eu vi a mão dele se estendendo para mim antes que eu apagasse.
. Um ano depois, eu estava ao lado de Bozhidar, o guerreiro da maça havia me salvado, ele havia me mostrado como era viver junto de humanos. Eu não precisava ser agressivo, eu não precisava tomar territórios, as manhãs das cidades eram cheias de mercantes e bardos, não cheias de gritos de guerra... Os humanos claramente não gostavam de mim, eles sabia que os hobgoblins eram criaturas vis, mas por causa do tempo que eu havia passado ao lado de Bozhidar, eu aprendi a sempre ver o lado bom das coisas, eu sempre mantinha a calma e tentava me apresentar. Às vezes era exatamente como eu tinha lido, os humanos começam estranhando mas acabam se acostumando com você, eles realmente são capazes de adaptarem com muita facilidade. E eu não sei se era porque Bozhidar era bonito e fazia tudo ao redor dele parecer bonito também, mas algumas mulheres diziam que eu era até que bonito para um hobgoblin...
. Eu aprendi muito sobre a humanidade junto de Bozhidar. Nosso grupo atual consistia de Theobald, Agnes e Louis. Nós saíamos em busca de missões em que pudéssemos ajudar pessoas, às vezes em troca de um pouco de ouro, mas nunca era nossa intenção. Foi uma boa época da minha vida, eu confiava neles com minha vida e eles diziam confiar a deles em mim. Um dia eu decidi contar minha origem, e recebi um olhar de aprovação vindo de Bozhidar, então cada um começou a contar sua origem...
. Theobald era filho de um anão com uma humana e foi treinado a vida toda para ser herdeiro da guilda de artesões de seu pai, mas ele queria liberdade, até que um dia um homem chegou oferecendo 1000 peças de platina para comprar a guilda, o pai de Theobald vendeu sem pensar duas vezes, então o homem entregou a escritura para Theobald e disse "Faça o que quiser com ela.", então Theobald pediu que seu irmão mais novo cuidasse muito bem da guilda e decidiu partir junto do homem para as aventuras que ele prometia, a liberdade tão desejada, e quando terminou de explicar, ele se virou para Bozhidar, agradecendo pelo o que ele havia feito.
. Agnes estava perdida na floresta, fazia dias que sua mãe havia a deixado lá, ninguém disse nada, mas nós haviamos entendidos que sua mãe humana era pobre e não tinha condições de cuidar dela e que seu pai elfo havia sumido. Bozhidar e Theobald estavam em uma missão de procurar a origem do som de choros que vinham de floresta até encontrar a jovem que andava descalça e soluçando o choro... E em dois anos ela havia se tornado uma exímia batedora.
. E bem... Louis não tinha muito a esconder. "Ei, você é o famoso Bozhidar? Posso me juntar ao seu grupo?" um coisa levou a outra e trinta e oito cervejas depois, eles haviam roubado uma cabra e transformado ela em uma cabra gigante com um cajado que pegaram de uma galinha preta e montado na cabra para a procissão do casamento com uma bruxa da noite em um forte...
. Depois de contarmos nossas histórias, Louis disse que seria melhor conversar com minnha família e falar que eu troquei de vida. Eu não queria, mas depois de muita insistência e dezesseis cervejas depois nós partimos para a minha casa. Foi quase um mês de viagem, e um dia antes de chegarmos eles ficaram para trás porque sabiam que invadir uma cidadela de hobgoblins não seria muito inteligente.
. Meus pais e Ketruk (que estava extremamente ferido por causa da batalha, ele não conseguia mexer seu braço esquerdo e andava mancando) me receberam muito bem, estavam preocupados e perguntaram o que eu fiz por todo esse tempo... E depois de explicar, eles só ficaram em silêncio, alguns segundos de silêncio se passaram e meu pai disse para mim pegar tudo o que eu precisasse do meu quarto, e que esse seria o último dia que ele gostaria de me ver, a partir de hoje eu estava expulso da família e seria um inimigo na próxima vez que o visse.
Fui até meu quarto, pegando apenas minhas anotações. De volta a sala de estar, eu agradeci apenas por respeito e parti para nunca mais vê-los... Mas ao sair da mansão, no caminho de volta eu encontrei com o mais velho dos meus irmãos, Drokhen. Ainda com desaprovação, ele disse que entendia o caminho que eu havia escolhido e não me faria seu inimigo, mas nem por isso eu seria seu aliado. E com um aperto de mão e um abraço nos despedimos.
. E três anos depois, em 5006, nós todos tinhamos dormido em uma taverna, porém, ao acordar nenhum de nós vimos o Bozhidar. Nem seus equipamentos ou seu cavalo branco e preto. O taverneiro não conhecia ninguém com esse nome ou aparência... Era como se ele tivesse simplesmente desaparecido... Ficamos juntos por mais um mês procurando por ele, até que decidimos finamente parar. Cada um de nós disse que iria seguir seu caminho e dissemos como cada um poderia nos encontrar. Nos juntamos para procurar um feiticeiro que pudesse transformar a magia Sending em pergaminho, foi caro, mas cada um de nós deixou um pergaminho de Sending fixo em lugares específicos. Para contatar Theobald, o pergaminho de Sending direcionado a ele estaria debaixo da estátua de cavalo no topo do telhado da guilda de seu irmão em Diyun. Para contatar Agnis, o pergaminho direcionado a ela estaria dentro da árvore que fica em cima da pedra de ritual no centro do Grande Lago. Para contatar Louis era so pedir um conhaque 13 na taverna O Unicórnio e o Dragão e o pergaminho viria dentro da garrafa. Para me contatar, o pergaminho direcionado a mim estaria no teto da caverna que fica atrás da cachoeira do rio Gorodrun.
Depois disso, cada um seguiu seu caminho...
. Pelos próximos dois anos eu andei sozinho, aprendendo a lidar com a ignorância dos humanos. Mas sempre mantive minha educação e postura, mesmo sendo acusado de crimes que não cometi e sendo expulso de lugares por conta de minha aparência. Como eu passava muito tempo debaixo da chuva, eu acabei mudando meus pergaminhos de magia por pedras com runas inscritas. Usando um pequeno truque alquímico, eu as transformo em argila, coloco os componentes das magias dentro, fecho e inscrevo uma runa, para depois então transformá-las de volta em pedras mágicas. Peguei o costume de ter algumas reservas depois de perder algumas delas algumas vezes. Eu tenho um "tomo" extra escondido em Ashenport, Mistwatch e Luccini.

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